terça-feira, 4 de março de 2008

Dayse Miller [Peter Bogdanovich, Henry James]

 

 

Quando assisti ao filme Daisy Miller, de Peter Bogdanovich, baseado na novela Henry James que eu não conhecia, a princípio pensei que se tratava de um caso amoroso em que os personagens se envolveriam em cenas plenas de lascívia. Enganei-me e me surpreendi. Trata-se de um filme belíssimo, sobre personagens incomuns e que fogem do vulgar que conduz ao lugar comum de todos os casos amorosos. Cada minuto me surpreendeu pela delicadeza das carícias que jamais foram tocadas.

De Henry James eu só conhecia A Volta do Parafuso, embora tenha gostado bastante, quis a vida que eu não me interessasse em percorrer a obra do autor, o que costumeiramente eu faço quando gosto. Não conhecia, portanto, a história e a trama que se desencadeou no filme. Fui pego de surpresa numa tarde vadia em que nada esperava.

Ao longo da minha vida eu conheci várias mulheres em que a beleza e, sobretudo, a peculiaridade do espírito, atraíram de mim, mais que o desejo, um exercício de admiração. Não que o desejo fosse inexistente, mas que admiração fosse ainda maior que o próprio desejo. E, sobretudo, porque se trataram de almas tão fascinantes que seria quase impossível que tal perfeição de detalhe, não compusesse um todo harmônico de beleza.

Assim sendo, vi-me vestido na pele do protagonista masculino que se viu enredado entre o desejo de tê-la e o gesto de admiração que, como cavalheiro de uma época vitoriana, se via obrigado a respeitar. E respeitando o respeito: não transgrediu a regra na incerteza de que Daisy seria uma alma pura, ingênua, ou inconseqüente. Essa questão o personagem leva até o fim do filme, quando da mais tristes formas de expressão das tragédias, se revela a realidade teórica de um amor.

Diria a lógica mundana do mundo masculino que o romance é sempre ilusório. Sempre uma construção fictícia em que o autor supera a realidade em perfeição. Mas ao longo de toda a minha vida eu sempre mantive a coerência de não transgredir o limite do desejo, em prejuízo da admiração. Porque o desejo é vulgar. Acontece a todo momento, quando se transita nas ruas de uma metrópole de qualquer século. A admiração não é vulgar. É rara, peculiar e delicada. E há de ser preservada a todo custo, mesmo em prejuízo do prazer mundano. Porque um cavalheiro há de preservar os instintos para os momentos adequados, quando é de comum acordo, claro e insofismável, que se perca a razão e se, suceda uma mudança qualitativa no encontro.

Ao longo de minha vida eu tive muitos encontros de admiração. Alguns foram bem sucedidos em termos de encontro amoroso. Outras vezes eu perdi o tempo do encontro, algumas vezes por ser equilibrado demais; em outras, por perder totalmente o equilíbrio, não consegui conduzir a bom termo.

Mas todos foram experiências de vida imensuráveis em termos de beleza. Já no horizonte dos 60 anos eu consigo vislumbrar toda essa beleza, indiferenciando o caráter da resolução.

Foi assim que assisti ao breve filme de menos de hora e meia. E percebi em mim a ternura do gesto de admiração, vivida pelo protagonista, com a mesma profunda emoção dos amores que não deram certo, mas que são amores e jamais mereceriam que se perdessem em mundo abafados pelo lugar comum da lascívia humana.

E eu reconheço que, embora não consumado, ainda será amor e talvez assim permaneça eterno, sem que se tenha a oportunidade de provar que não é.

 


 

Um comentário:

  1. Adorei seu blog, vou voltar mais vezes, muito bom mesmo.Parabéns.meu blog é marthacorreaonline.blogspot.com, espero que goste.

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