terça-feira, 4 de março de 2008

convicções

 

Eu não tenho "convicção" de absolutamente nada. Ser ou estar "convicto" de algo me parece um estado de tolice provisória.

Quando eu falo em "convicções", refiro-me a "certezas". A gente quando se diz convicto de alguma coisa, está afirmando que está absolutamente certo de que aquilo é certo.

Diz o Aurélio, sobre "convicção":

1. Efeito de convencer.
2. Certeza adquirida por demonstração.
3. Persuasão íntima.

Se tomarmos o sentido de "Efeito de convencer" para mim não seria "convicção" a palavra mais adequada e sim "catequese". Ou, melhor, um ato essencialmente político de fazer com que uma idéia seja incorporada por terceiros. Pode ser visto até como uma ação de promoção, de propaganda, de venda. Mas não quer dizer que estamos absolutamente certos do que estamos querendo fazer com que outros incorporem. Interessa-nos, sob esse enfoque, a persuasão do outro e não a nossa. É muito cômodo que terceiros tenham "convicções" neste sentido. Quando pessoas se submetem às nossas "convicções" estamos exercendo poder de dominância sobre pessoas. E isso para mim é muito ruim... Muito ruim mesmo.

Se tomarmos no conceito de "Certeza adquirida por demonstração" temos a própria expressão do positivismo. Ou seja, da ciência experimental. A crise que vem passando a ciência, desde a década de 80, mostra que o positivismo é algo que deve ser visto com muitas ressalvas. Que as tais "condições normais de temperatura e pressão" são apenas situações hipotéticas. A mesma coisa na Economia: o tal do "livre mercado", a tal da "concorrência perfeita", são apenas situações hipotéticas. Hoje sabemos que tudo está interligado e que não tem lá muito sentido dizer que isso incorre naquilo. Não estou dizendo que a ciência experimental seja inútil. Estou dizendo que ela não se sustenta por si mesma.

Se tomarmos no sentido de "Persuasão íntima", ou seja, convencermos a nós mesmos de alguma coisa. Para que isso serve? Para congelarmos um pensamento, dando-o como certo, e nos robotizarmos no futuro próximo? Ou seja, estamos querendo transformar nossa cabeça num computador? Parametrizamos nosso cérebro para fazermos simulações e tomarmos decisões? Para que serve essa tal de "persuasão íntima"?

Ou seja, parece-me que essa palavra "convicção" é quase um sinônimo de ingenuidade. Ou então de mau-caratismo: dizemo-nos "convictos" para iludir pessoas a respeito de uma "verdade" que nos interessa política, filosófica ou comercialmente. Quando afirmamos "Estou convicto!" - e batemos na mesa para enfatizar cenicamente tal "convicção" - estamos na verdade ou tentando calar a boca de quem se opõe (quando temos poder para tal); ou então dizendo: "Basta! Eu não quero mais ouvir você." Isso é um tanto feio e deselegante, não é?

Eu aprendi que não existem certezas nem no futuro, nem no presente, nem mesmo no passado. Quando se revisita o passado a gente nunca o vê da mesma maneira. A fenomenologia, isso que eu estudo, é justamente um método de desvelar o ser que somos através de sua historicidade. Usa a tal da hermenêutica, que é um processo de pesquisa que a fenomenologia usa para desvendar signos e sinais ocultos e permitir uma leitura em busca desse desvelamento. Creio que possamos usar outros processos.

No presente nós vivemos o cotidiano. Dificilmente estamos preocupados em ter convicções: no cotidiano - que é o momento que a gente vive - o dasein, o eu-aqui como fala Heidegger - o que temos é posicionamentos políticos. Tomamos uma decisão, defendemos um ponto de vista, fazemos alguma coisa, não porque temos convicção, mas porque consideramos uma hipótese e a interpretamos com as informações que temos até o aqui-e-agora.
 

 


 

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