Naquele dia, em um sonho dentro de um sonho, você apareceu de surpresa. Veio a minha casa e abriu meus portões silenciosos. Esperou na sala, sentada no sofá, aguardando o tempo. Não olhou minhas coisas, não abriu nenhum de meus livros, não fumou sequer um cigarro.
Como o tempo à espera do tempo, esperou com calma que eu adentrasse no aposento. E sobrmaneira não me surpreendesse ao perceber que ali você estava. Estava dentro de meu sonho e com uma calma quase tímida me fitava nos olhos.
Naquele momento o tempo parou.
E precisei de um longo espaço de contemplação dentro de teus olhos. Havia em você uma placidez de um lago sem vento. Havia em você a percepção de que todas as palavras seriam inúteis. E que naquele momento o foco do universo era aquele homem e aquela mulher sentados um frente ao outro, deixando-se envolver por uma atmosfera comum.
Poderia vir o desejo. Sim, poderia. Mas como que houvesse toda a eternidade para concluir o ato, o desejo deu lugar a outro desejo. Como se houvesse um outro acasalamento em uma dimensão de sonho.
Sim. Eu estava morto e você me visitava. Qualquer coisa que eu fizesse ficaria no domínio do abstrato. A não ser percorrer a mão nas penugens de teu corpo e eriçar a pele e abrir teus poros. Para que eu-éter penetrasse e você me compreendesse.
E foi todo o significado dessa dimensão de espera. E a certeza triste da impossibilidade me fez saber da minha impotência morta. E minhas lágrimas etéreas se depositaram sobre a tua nudez. E você, mantendo sempre o silêncio, me acompanhou até a porta. E eu segui o caminho que todos irão seguir.
Você ficou na porta me olhando ir. E adentrou a casa e habitou-a, simplesmente, sem nada mais dizer.
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