Às vezes eu fico pensando
se a consciência é importante
e se vale a dor cotidiana
de seguir nesse caminho
Às vezes eu fico pensando
se não é melhor, mais digno,
estabelecer uma relação
com o ópio e nele ficar
permanentemente
até o esvair lento
rumo ao colapso
dos órgãos
Esse fardo humano
da culpa que carregamos
como se a realidade fosse
uma condenação
Penso e logo a minha razão
o meu logos
vai construindo a minha
existência
aos pouquinhos
como uma via-crucis
ingerida diariamente
diluída em pequenas doses
de paixão
Então, me perco nesse
emaranhado emocional
de vez em quando
nas reflexões de vida
que acontecem
em datas marcadas
no fim de ano
no meu aniversário
no momento de angústia
que antecede
algum acontecimento
E, penso, se estivesse eu
casado com o ópio
numa relação diária
talvez abolisse a consciência
e estivesse abrindo uma janela
para ir embora
definitivamente
e livrar-me da dor.
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