domingo, 2 de março de 2008

finitude

 

é uma manhã, quase tarde
cinza e úmida
há uma falta de sentido
que age como uma cunha
penetrando o peito

é uma solidão vaga
um isolamento do nada
uma falta de querer
um não querer ir
um modo de não fazer
a falta de persistir

é tarde, não é manhã
está frio e eu não sei
se sei ou vou saber
o que dói e onde dói
se dói, se vai doer
ou simplesmente
nada irá acontecer

entreguei esta manhã
ao vazio dos filmes
cheios de densidades

assistindo aos outros
em suas vidas ilusórias
em seus delírios vitais
em forma de arte

seria a arte uma realização?

o que seria realizar?

tornar real
uma percepção efêmera
que pairou um dia
que pousou um dia
em formato de angústia triste
de uma vaziez do frasco
que se diz cheio de ser
que é o corpo
que exige vida
mas o que é vida?

olho para o teto
ouço os ruídos
um caminhão que passa
como passa o tempo

lá fora corre esse tempo
e as pessoas cumprem
a sua existência
pontual e marcada
por flashes particulares
e pessoais de si
quando param
e olham e esquecem

o corpo, sim o corpo
dissecado pela ciência
à procura desse ser

a busca de um logos
de uma procura
de satisfazer-se de razão
e explicar
a incapacidade
de ser
que o tempo não conta

a não ser para pontuar
marcar os flashes
num afã de explicar
a existência
de uma biografia
interrompida
no encontro
de um corpo vazio
vazio de ser
vazio de si

segue-se
o cotidiano
em busca
do fim

 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário