quinta-feira, 6 de março de 2008

não quero escrever poesia ácida





Não quero escrever poesia ácida
que fala de mutilações da alma
e do corpo e da mente.
Não me agrada agora escrever.

Sinto-me até arrependido
de ter dedicado tanto tempo a isso.
Não fico preocupado:
torna-se difícil a minha busca.
Mas só não é possível,
por exemplo,
encontrar Quintana,
de uma pena tão suave, tão sutil.
Faz-me levitar e percorrer caminhos.
(Não o caminho fácil de Porto Alegre,
da minha também infância),
mas o caminho do éter,
penetrar em nuvens,
em tocar o vento, em viver os cães,
as rãs,
os grilos,
a noite
e claro...
os passarinhos.
Toda a magia...

Pensando em Quintana...
em Drummond...
Penso que na velhice,
para não deixar a mente fraquejar,
é necessário escrever
toda a maturidade do verso.
Penso em Cora Coralina,
e, também...

Mas, de repente surge Pessoa
e daí me lembro que morreu jovem.
Lembro-me de Poe
e sei que, também,
tempranamente nos deixou.
Começo a lembrar de tantos outros.
A relação torna-se falha.
Mas nesses casos o espírito era velho,
e continua sendo.

Mas Quintana está perto do éter.
Ele já quase mistura-se.
Ele é meio gente,
meio éter.
E a gente percorre caminhos que...

Não gosto dessa poesia ácida...
Não gosto de toda hora
ouvir falar de entranhas...
em garras,
em punhais,
coisas agudas...
Não quero escrever mais nada.



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