sexta-feira, 21 de março de 2008

bom dia, tristeza!




i

bom dia, tristeza!
nada se absorve
ou se perde na beleza.
o inverno da desesperança
consentida.
o silêncio do pulsar
admitido.
bon jour, tristesse!

ii

a conspiração noturna,
o advento da respiração
da brisa da madrugada,
um salutar reflexo de continuidade.
implorar presença
que preencha a falta
do tudo.
da totalidade de tudo.
sinto muito,
se as manhãs são nuas,
se tuas tardes são vazias
e o tédio impercebido resvala nas quinas
dos móveis.
se o volume da rádio-vitrola
faz as paredes purgarem
uma canção inesperável.

iii

se antes havia
um tênue ressonar
ao lado de minha abstinência,
hoje os resquícios
de presença
são absorvidos
pelos meus pelos que se eriçam
ao toque invisível do desespero.

iv

play me a ring!
sing me a song!
a song of my desperate christmas!
i'm lost...

v

um inexplicável
suór de nossa vadiagem.
na tarde, na manhã,
na presença noturna,
a atmosfera que envolve a tudo.
sinto saudades,
dessas tardes.
o telefone soar
e tudo ser...
a certeza do dia
frente à obscenidade
permitida.
o toque do espírito
na pele.
o contato profundo
nas partes impuras.

vi

cravar os dentes
na ausência de tua carne.
lamber o vazio
onde estariam tuas portas.
e o gosto amargo
da secura da falta de teus sumos
transborda em lágrimas
da mais pura incerteza.

vii

deita comigo
o silêncio
da invalidez
das possibilidades.
deita comigo
a fraqueza que nos levou
e te conduziu para perto do
cataclisma.
permanece comigo
a falta de teu sussurro.,
do teu gemido,
do ressuscitar
das velhas
e inesperadas
paixões.

viii

bom dia, tristeza!
a porosidade da língua
que guarda o sabor
delicado
de tua saliva.

ix

impressa em mim
cada emoção,
cada toque,
cada sensação
esculpida no fundo.
e as limalhas
da alma
permanecem
espalhadas
no ambiente do quarto.

x

guardo comigo,
numa coleção
de fragmentos,
a ansiedade
da volta.




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