segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dezembro



Deita-me o veneno
de mais uma tarde sonolenta.
Permaneço deitado na cama
à espera de nada.
Ressono e sonho idílios
vestidos de salvação.

Mas há tanta desesperança
nesses sonhos diurnos.
Como se permanecesse desperto
ligado o sinal de alerta,
premido face à ilusão,
perturbadora,
de minhas saídas clássicas.

Minhas fugas místicas
que atravessam a tarde,
pintando-a de tênues brilhos
que travestem a cores
mortiças e fugidias,
os fantasmas dos mortos
que ainda pulsam.

São essas as tardes
que antecedem o desânimo
irreversível do tempo.
Não há esperança!
Apenas uma tarde que passa
com a brisa que sopra
e deixa mais vazia a alma
do amanhã.


São Paulo, 2013, dezembro.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Esperando o almoço como quem espera para tomar injeção.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Vagina



I

 Teus lábios,
 doce mel de frutas sazonais,
 se oferecem livres
 ao desfrutar dos beijos.

 Tua boca molhada,
 ostra aberta ao desejo,
 saliva de todas delícias.
 A flor de todas carícias
 tuas pétalas
 ficam expostas aos meus sentidos.

 Abre-se,
 jardim das virtudes,
 fazendo-se carne
 e despeja sobre mim
 tua água farta.

 O calor de teus ermos,
 o vale de tua sombra,
 transmite-me, dentro de ti,
 a dádiva profana da terra onde
 todos os frutos habitam
 e se depositam
 todas as sementes.

 Sabe-se que tu, mulher,
 antes de mais nada
 tens a vagina preparada
 para afirmar-te fêmea
 a qualquer tempo.

 II

 Tenho a ânsia infinita de te possuir
 até o fundo, sem qualquer constrangimento.
 E ao mesmo tempo quero fazer-te sentir
 -se, então, senhora nem que por um momento.

 Em meio à faina, meio da batalha.
 Espada em riste, sem traço de clemência.
 Afasto as portas de tua residência
 e cravo tudo rompendo a tua malha.

 E ao sentir-se tão fundo lancetada
 tua vagina entrega-se de todo,
 vibra por dentro, toda encharcada
 e me domina enquanto eu a fodo.

 E a luta afasta de nós todas as éticas
 no afã de possuir a alma alheia.
 Uma ciranda entoada sem poéticas,
 uma charanga expressa em carne, nervo e veia.

 E eu te domo, gazela desfreada.
 E eu te como, boceta enfurecida.
 Eu te quero assim, escancarada,
 pra despejar em ti a minha vida.

 E se aproxima a última estocada
 o frenesi expresso, uníssono dueto
 tua boceta me traga esfaimada
 e te devoro no teu fundo aposento.

 Mas num momento em que tudo é mais tudo,
 como se fizesse a morte inquilina.
 nesse instante supremo eu fico mudo
 e me rendo, inteiro, em tua vagina.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Aquela lembrança noturna
percebida dentro do sono.
A definida figura, clara,
a conduzir o espectro
de alguma inacessibilidade.
O lento solavanco
dos dormentes do tempo,
onde cada momento,
esvaído do nada,
purga nas chagas
da tarde dos incestos.

Aquela jovem visitada
e que de nada se apercebe.
O erotismo de ser
simplesmente um suspiro.
A vetusta fonte
de entranhas águas.
Profundez de vales.
Reprodução de fatos.
Melódica inacabada.
Contínuo interrompido.
Sinfonia deletada.


... Rio de Janeiro, 1996
Lento progredir
da maratona insana.
Vida vivida a esmo
percolada de estio.
Luminosidades refletidas
nas saliências dos cantos.
As equimoses do tempo
nos resvalos
impercebidos nas quinas.
Não,
o amargor sentido
de dentro da saliva.
A pele misturada
na ardência dos ácidos.
A perpétua e obstinada
prepotência do inevitável ocaso.
A ridicularização dos ícones
a representar falácias.
Regras inadmitidas,
frascos de inconsistência
a revelar nos pelos
a sensibilidade dos insetos.

... Rio de Janeiro, 1996

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Perceber-se, ter a presença em si, é estar vivo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Eu não controlo nada. Sequer consigo controlar a minha conta corrente. Mas tenho ânsias de controle. Na verdade, tenho ânsias de mandar à merda essas ânsias de controle.
Nem sempre eu tenho lógica nas coisas que eu acho. Muitas vezes eu dispenso a lógica, como um artefato trabalhoso e quase sempre inútil. Tenho muita preguiça para viver desenvolvendo lógicas.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O éter dos fantasmas reside na memória. A quina dos móveis que resvalam na carne durante os percursos sonambúlicos da madrugada. Aguardo a aurora e o despertar dos sonhos que teimam persistir pela manhã adentro. Bebo o frescor das manhãs e respiro aliviado o terror de minhas insônias. Arrasto os pés pela casa em mero vestígio de sobrevivência. E deito na cama para acalmar as dores íntimas que sobreviveram às sombras.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

avessos

Essa escuridão não verte em substância.
Trago passos adentro a casa
e não verto espasmos de percepção.
Silente o verso de uma mudez estanque.

Apalpo as circunstâncias de uma negação.

Meu hálito transpira incoerências e fatos.
Soam badaladas inexpressivas
do pulsar diário e constante
que um dia cessa.

Cabe o aposento em penumbra.
Repousa o corpo em abandono
no divã da sala de estar.
Fluem a rotina e as horas cegas.






O nada é um turbilhão de ausência. Nem sempre temos algo para dizer. Apenas o nada derrama em nosso ambiente a sua não-cor. Prolifera que permaneçamos em silêncio. Vítimas do desassossego de uma alma que tenta palpitar na inexistência.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um poema baseado no silêncio coberto pelo vento que sopra. Um funeral. Palavras que permanecem caladas no tempo.
O poeta não vê o óbvio. Ele o transborda.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Podem a arte, a cultura e mesmo a ciência serem alienantes?
Será que em algum momento da vida temos o direito de ter a sensação do "dever cumprido"? Não é um sinal que a vida acabou?
Vocês lembram daquela propaganda dos tempos de ditadura em que havia o pessimista e o otimista? Ela está prestes a voltar pra TV.... Aguardem!
Paz é uma commodity que custa cada vez mais caro... tão cara que está além das expectativas. Quando se pensa que a obteve, um novo risco vem e põe por terra a sensação de paz!

terça-feira, 4 de junho de 2013

abra as portas

Não refugie a tua poesia em palavras herméticas e sentidos obscuros. Bem verdade que assim dás o dom de cada leitor de construir outro poema. Mas  poesia não é fechar portas criar incompreensões herméticas. Escreva com palavras simples e abra as portas com facilidade para cenários complexos e profundos da tua alma. Seja simples como aquilo que brota na semente e verdeja na complexidade de um ser vivente.

as portas

às vezes penso
em escrever um poema
às vezes penso
e não escrevo nada

construo para mim mesmo
uma porta secreta
por onde saio
e nem sempre volto

hoje não encontro
a minha porta secreta
onde foi que a achei
da última vez?

o tempo passa
e as portas vão se fechando
o tempo admira
as portas fechadas

Passagem



A casa está vazia hoje. Não esbarro nem comigo mesmo. O silêncio permeia os ambientes e o quarto ainda está na penumbra. Não tenho que fazer de mim. Encontro-me comigo mesmo em uma dimensão distante. Longe das dobras do cotidiano e das sobras do dia de ontem. Aguardo a passagem das horas!

Vesti-me de manhazinha com a roupa habitual de meu dia-a-dia. No entanto a cela parece que me leva a caminhos até então indecifráveis. Não sei onde minha nave quer me levar. Nem sei se quer, simplesmente habito.

Habito e, dentro dela, pareço ser outro mundo. Um outro mundo com outro modo de ser. Perplexo. Deixo-me acompanhar da vida que passa. Vou dentro de algo e algo vai dentro de mim. São pequenos universos irreconhecidos. Sou eu que vou no rumo do tempo. Sou eu quem sou percorrendo a minha jornada. E esta jornada não sou eu que traço.

É apenas a vida que se desenvolve e eu vou!

sexta-feira, 31 de maio de 2013

terça-feira, 9 de abril de 2013

Aerial America

Estou assistindo, no canal Globosat+, uma série que se chama "Aerial America". A proposta consiste em mostrar, provavelmente para os próprios americanos, o país em que vivem. Que, claro, é enorme e a maioria dos americanos conhecem apenas uma parte dele.

A abordagem da série é feita pela filmagem do alto, a partir de helicópteros, com tomadas sempre de cima, aéreas, e que mostram muito bem os aspectos urbanos, a arquitetura, as instalações, e uma exuberante natureza, magnificamente preservada e e que se intermeia com as cidades e em suas periferias.

A série não fica apenas nas imagens. O narrador vai contando histórias das cidades e regiões onde aconteceram importantes eventos. E assim vai conjugando imagens e acontecimentos, residências de americanos ilustres do passado, monumentos, fábricas, rios, pontes, florestas, montanhas, vales etc.

O primeiro programa foi pelo arquipélago do Hawaii. O segundo foi pelo Estado de Connecticut. O terceiro, acabei de ver, foi pelo Estado de Virginia.

É um trabalho de propaganda, eu sei. Provavelmente é para estimular o orgulho nacional, quem sabe. Mas qual é o problema de admirar algo que funciona magnificamente e com a beleza natural e desenvolvimento organizado entremeados. Acho que o americanos têm razão de serem orgulhosos de seu país.

E confesso que fico de boca aberta. Eu, que passei a maior parte da vida torcendo a cara para eles. Agora, quando a idade avança, consigo libertar-me do ranço esquerdista que tantos anos me acompanhou. E, agora, eu vejo este programa com desprendimento que me permite admirar e, com uma pontinha de inveja, acompanhar e admitir que é uma beleza enorme, aquilo lá.