domingo, 2 de março de 2008

que falam demais

 

Eu sempre tive receio
de me tornar
uma dessas pessoas
que pensam demais
que falam demais
que escrevem demais
que falam sem parar
tentando demonstrar
suas teses

Eu nunca aguentei
monólogos professorais
nem em sala de aula
nem em mesa de bar

Talvez seja porisso
que eu escrevo assim
em formato vertical
como se fosse poema
mas que na verdade não é
não tem a pretensão de ser
apenas é para deixar fluir
e alguém interceptar
e introduzir algo
se quiser

Eu sempre me seduzi
por pessoas que falam pouco
que terminam suas frases
com reticências
com interrogações
que qualquer um pode concluir
que qualquer um pode continuar
interagir
abandonar
simplesmente calar
ou desandar em seu silêncio
em outro divagar
outros caminhos
ir além

Assim
como se natural fosse
um multipensar
no multiverso que é
um infinito de ser

Eu sempre amei as pessoas
que falam pouco
que pensam (até) pouco
que não são dadas a longas reflexões
a partir de banalidades
porque o banal é para ser banal
e respeitado como tal
e não tornado uma lógica
uma filosofia
uma escolástica
daquelas que cansam
só de pensar

Eu sempre gostei de pessoas
que apenas sorriem
que me olham nos olhos
e assim me respondem
que simplesmente entenderam

Eu sempre gostei dos silêncios
das madrugadas
da solidão noturna
onde a distância parece transbordar
os umbrais da cidade

Sempre amei essas pessoas
que assistem o mundo em silêncio
sinto ali uma compreensão profunda
da ignorância própria e do mundo

Gosto da pessoas
que apenas sorriem
que entregam a cumplicidade
de cultivar a simplicidade
de tudo

E compreendi
para mim mesmo
que pensar demais
que falar demais
dissecar complexidades
tentar explicar para si mesmo tudo
é uma fraqueza
uma profunda ignorância
do infinito universo
 

 


 

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