quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

adiamento revisitado



Depois de amanhã
Toda a poesia contida
no tempo se direciona
em direção à passagem.
Ultrapasso o umbral
da longevidade e tanto
me espera a noite
em busca do futuro.
Quero ainda fazer,
deitado na imensidão
do nada,
a construção do futuro
como se fosse nascituro.

Depois de amanhã
serei um homem sábio.
Diz a lenda,
que depois de amanhã
a sabedoria investirá
em mim uma consistência
jamais experimentada.

Depois de amanhã, Álvaro,
só depois de amanhã.
Caberá amanhã planejar
a minha velhice.
Mas isso amanhã. Hoje
quero deitar em mim
o resto de jovialidade.
Um ser menor que o velho
ancião que
depois de amanhã
acordará comigo.

Só depois de amanhã...
(né Álvaro?)
Tenho ainda dois dias
para achar
a pedra filosofal
o Santo Graal
a fonte da juventude
o eterno resto
dos prazeres
porta adentro.

Só depois de amanhã
terei tempo
de ser o jogador de paciência
com o futuro.
Aguardar a chegada lenta
da Velha Senhora.
Só depois de amanhã.

Hoje ainda
posso ver em mim
um resto de menino e
construir do nada
o edifício do ser
juntando
um a um
os tijolos do absurdo.

Depois de amanhã.
Só depois de amanhã...
(não é, Álvaro?)
Estarei pronto para ser chamado
de senhor
pelas mocinhas das salas de espera.

Só então saberei respirar
o odor da madrugada
no velho hangar
de onde sai a aeronave
que me levará ao futuro.
E o futuro é
um precipício
vazio
onde se cai
sempre.






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