sábado, 23 de junho de 2012

Os Super-Alunos

Ao longo de minha vivência de magistério eventualmente apareciam, em salas de aula, um ou dois alunos que superavam a média da turma por diversas razões: 1) porque dispunham de uma inteligência excepcional que os diferenciavam da média; 2) porque já tinham tido, anteriormente, experiências de aprendizagem com relação ao conteúdo que estava sendo ministrado; 3) porque tinham facilidade de absorver e explicitar seu parecer (inclusive crítico) com relação ao que estava sendo ministrado. Isso entre outras razões ainda mais complexas.

Creio que o surgimento desses alunos acima da média sempre são um desafio para o professor. Porque muitas vezes eles serão instigadores, questionadores e, muitas vezes, transgressores do ambiente médio da turma. O professor deve engessá-los ao padrão médio da turma? Não, no meu ponto de vista. O papel do professor deve ser sempre o de abrir portas para seus alunos e jamais tentar "mediocrizá-los" ao padrão médio da turma. Engessar o aluno excepcional é uma violência autoritária! Deve-se propiciar a esses alunos a possibilidade de transcendência. Sim! porque eles sempre têm o que aprender, assim como o professor ao lidar com eles.

Com a chegada dos alunos das chamadas gerações X, Y (e a Z que vem vindo aí) às salas de aula do ensino superior e de pós-graduação, acredito que o número desses alunos excepcionais. por sala de aula, já começou a crescer. E, para a complexidade do ensino, cada um tem particularidades e excepcionalidades diferentes. Colocando-se, assim, um desafio ainda maior ao professor para tratar dessa diversidade de super-inteligências, que muitas vezes têm um conhecimento do conteúdo maior que o do próprio professor.

O Professor-Tutor

"Claude Frasson: O professor é designado como um co-aprendiz. Isso porque ninguém tem o conhecimento. O conhecimento existe e precisa ser construído individualmente. É o aluno quem constrói o próprio conhecimento. O professor recebe essa denominação dentro desse contexto porque ele está o tempo todo aprendendo com seus alunos."

Vejo que cada vez mais o professor-tutor como sendo um participante do processo, ao ponto de me questionar: até que ponto é necessário e importante que o professor, enquanto tutor, detenha o conhecimento a priori da matéria que está sendo ministrada? Haverá um tempo em que a interação e a gestão do processo de interação coletiva tornar-se-á uma habilidade cada vez mais específica. E esta habilidade de tutoria será tão ou mais importante que o prévio conhecimento do professor-tutor com relação ao conteúdo do curso que se está tutorando.

Afinal, aprendermos segundo o "estar junto virtual", que o Prof. José Armando Valente se refere é uma evolução permanente. E chegará a um ponto que em que o "estar junto" será tão demandado como habilidade de conduzir, que o professor-tutor entrará em um curso na mesma situação dos alunos em relação ao conhecimento a ser aprendido, de modo a "aprender junto" de uma forma mais efetiva. E colocar-se, assim, mais próximo dos alunos.

Aí o planejamento do curso, especialmente o processo autoral, toma uma dimensão de guiar. O professor-autor - este sim, o detentor do saber iniciático - desenhará um caminho a ser percorrido. E caberá ao professor-tutor gerenciar o processo de desenvolvimento coletivo da reconstrução do saber... E transgredir, junto com os alunos, o caminho do conhecimento inicialmente traçado de modo a percorrer o processo para a reconstrução coletiva do saber-autoral para um saber qualitativamente transcendente.

Estaríamos, assim, tornando numa prática a inteligência coletiva, que Pierre Lévy gosta tanto de mencionar e que foi título de um de seus livros.