Às vezes eu fico pensando sobre a dor. Eu não sou cara de fugir da dor, mesmo porque não adianta, quando ela veio foi inevitável. Também não a procuro, mas às vezes a pressinto ao longe, como se fosse dona de uma espera paciente.
Por ter vivido intensamente dores profundas, talvez eu saiba viver profundamente, também, as minhas alegrias de leveza e alguns prazeres rasgados. Não posso me queixar da vida e nem mais rasgar as vestes. Não me queixo da vida porque a vida é, antes de tudo soberana. Deve ser reverenciada como parte do sublime mistério do ser.
Hoje eu não quero falar de alegrias, nem de viscerais prazeres. Eu - hoje, só hoje - estou achando uma extrema tolice máximas que dizem que a felicidade começa dentro de si mesmo. Isso poderia ser verdade em universos perfeitamente egocêntricos. Eu não sou eu mesmo. Eu apenas sou quando sou no mundo. O mundo não muda dentro de nós. O mundo interage com o ser e o se se transforma só quando em contato com o mundo. E o mundo não pode estar dentro de nós.
Nesse estado de consciência eu percebo que a sensibilidade para com o outro está muito relacionada com a nossa vivência da dor. Escute o Canto Triste (Edu Lobo - Vinicius) e perceba como transborda uma amargura que não pode ser mensurada. Descreve toda a distância que existe na morte e a saudade de um amor que persiste, infinito. Não é uma tristeza vã, nem um culto à dor. É um reconhecimento da extrema fragilidade humana frente ao infinito. Ouça Pra Dizer Adeus (Edu Lobo - Torquato Neto) e deixe-se envolver por uma despedida sofrida, mas conscientemente necessária. E ainda há isso aqui para informar que há dores que são mais que inclementes. Dores que são insuperáveis.
Não, não é um culto à dor. É um profundo respeito. Um respeito que é quase uma oração ao cotidiano daqueles que sofrem. Não, não é uma busca de cumplicidade na dor. É uma empatia com vontade de ser bálsamo de silêncio. Porque a dor maior é a dor silenciosa. A dor que não sai no jornal.
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