quinta-feira, 15 de março de 2012

Noturno Negro

Esta minha memória
vaga
nebulosa
remonta resquícios de ser
histórias
vultos
Essências de outros
mortos
fantasmas
Encontros deixados de lado
espirais
confusões

Meu pensamento
uma viagem sem bagagem
a percorrer trilhos
a estacionar em gares
pontos de parada
reflexivas pontes
travessias no tempo
do tempo
do longe
do longo
ao longo
de um percurso sem fim.

Minha pequena tristeza
esquecida
colocada de lado
Deitada em uma estação do tempo
num momento há tempo
meus devaneios
minha sensação de presença
omissões de existência
fugas de perspectivas
geometrias
espaços
vazios

É lá que vou todas as noites
E percorro esses caminhos
de uma cidade
que não me lembro
e que
no entanto
pareço saber todos caminhos
atalhos
ruelas

Cenas de filmes antigos
mal absorvidos
cenas fugazes
incompreendidas
que retornam
e ali estou eu
vagando nesses cenários
em ilusões
que um dia foram minhas
e agora desintegram-se
e desvultuam-se
em minha velhice
e no meu contar
noturno
solene
das horas

E a sensação de cansaço
na mente
não passa
E a culpa de viver
permanece

É assim que me encontro
nessas madrugadas
insones
a buscar algo
improvável
inefável
na escuridão da sala
na penumbra da alma
vadia que vaga
sempre ao léu

E se durmo
é como se obtivesse
um passaporte
para um país
tão íntimo
tão distante
inalcançável
quando desperto

Mas que sei que
é para lá
que estou indo
já a caminho
cada dia
cada hora

Há uma cidade
a ser visitada e
um dia desses será.

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