domingo, 26 de setembro de 2010

acima de tudo




se um dia
você pensar com clareza
caminhando  talvez
por uma alameda do zoológico
perceberás
que vale a pena
continuar vivendo

apesar de toda
esta miséria cotidiana
saberás que o amor
é a única
verdadeira cura
ainda possível

não se perca em pequenices
das tramas meramente simbólicas
não capitule face aos pobres papéis
que a vida faz para escravizar
não se importe com isso
esqueça isso

venha com teu melhor sorriso
com tua ternura mais acolhedora
com teu olhar mais crédulo
com tuas mãos mais cálidas

tu podes fazê-lo
ressuscitar-me-ás


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

canção de amigo



há no mundo tanta necessidade de definir: problemas, soluções, futuros. não por mim. eu tenho gosto por inconclusões. tenho ânsias de eterno. desejo de ir além. pois concluir significa chegar ao fim. tenho ânsias de eterno. ao descobrir que gosto de ti, que gosto de te ter por perto. para te falar, ouvir. para te agradar, fazer-te alegre, mesmo que seja por hora, oferecer-te um pequeno bem-estar num fim de dia, ou de noite. não importa. que seja sem querer que o tempo acabe e que o momento se perpetue.

quero-te por perto para olhar nos teus olhos, não preciso decidir o que tu és para mim, nem o que serás. importa o que és, por si só, agora, neste instante qualquer. não, não quero te ter só para mim, como falam tantas canções de amor. eu quero apenas poder te achar, para ouvir teu pensamento e quem sabe sentir, se for a hora, o beijo do teu olhar, sobre o meu. não, não quero que sejas minha amada, namorada, nem nada. tenho ânsias de eterno, inconclusivo, sem fim.


July


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

vicinais




como se conhecesse de véspera
percorro tua pele de amável textura
e as penugens se curvam e voltam
ao ritmo do fôlego

lábios peregrinos tocam com leveza
as ravinas de teu tórax
e por ali se envolvem num jogo
de não atender a anseios

escorrego para o abdome abstrato
que pareces recolher
e querer conduzir
para um fim mais farto e direto

mas ali permaneço
como se desdenhasse o porvir
sem atender às súplicas de carne
me entrego nesses caminhos


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Débora


bi-polar




há em ti
uma moça quieta
às vezes calada
quase sempre contida

há em ti
uma quietude inquieta
mesclada em silêncio
de uma busca

sinto-me percorrer
a alma em busca de carne
sinto em mim teu espírito
me invadindo a casa

mal de lua te toma
e a noite te aflora
e não consegues mentir-te
quando chega a hora

e como o furor desabrota
a voracidade te toma
assim sem medida

e uma ânsia de sangue
transborda do cálice
derrama na cama
e emarfanha as cambraias


sábado, 18 de setembro de 2010

o mundo e os olhares

é o mundo e cada um vê o mundo
e é extremamente importante para o mundo
que cada um veja o mundo de um olhar diferente

(para Vilma Machado)