quinta-feira, 27 de agosto de 2009
rumores do silêncio
onde foi que guardaste
os momentos em que
deitava sobre ti
a ternura de meus lábios
o tempo revelou o silêncio
a solidão das palavras
presas entre dentes
nas unhas sujas de tinta
e de suor de sangue
comprometi-me a dizer
algumas palavras doces
de carinho desinteressado
mas elas se diluíram
no frenesi dos ventos
e os desejos se foram
escoando pelo ralo
a fumaça de teu cigarro
invadiu meu quarto
me engasgou na névoa
daquela noite insone
e nem o alvorecer
clareou o torpor
da mente submersa
no ardor das ânsias
o dia clareou
em tua nudez mais íntima
vasculhou das gavetas
histórias mal contadas
mal vividas, desleixadas
no percorrer das horas
e meu olhar te conteve
enquanto eu te pensava
e bebia teu ressonar
e permaneci ali
perscrutando o tempo
enquanto te perdia
na sonoridade da rua
onde os transeuntes
carregam suas dívidas
tais credores do absurdo
em suas vidas inertes
transitam na cidade
e então eu te vi
pela janela da sala
caminhando lá fora
o seu dia comum de sentido
do nada que te impulsiona
te vi percolando camadas
com passos que não soam
com voz que não fala
é apenas a cidade que te leva
são os rumores do silêncio
só o que se escuta agora
por Claudio Fagundes (CAlex)
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