domingo, 11 de janeiro de 2009

água-furtada







Enquanto o vento passa atropelando
as madeiras toscas de um alpendre nu.
Enquanto doira de sol a água-furtada.

Novelos de macegas
adentram a casa.
Ruído e mau cheiro
adentram a casa.

No avarandado pretejado pelas sombras
uma mulher nua e branca como um véu,
se estira no soalho tosco de tábuas

e se deixa penetrar
pelo sol, devagar
Se deixa possuir
vagarosamente pelo sol.

Eu poderia miscigenar um sangue,
penetrar na tua ante-sala
Fazer-te gemer, fazer-te morder,
Fazer-te...

Enquanto a sentir no vestíbulo deste mundão,
toda a tristeza muda de um pomar neurótico.
Num acasalamento frígido e letárgico

a carcomer a mente
numa chaga viva.
A amargar os restos
em todos os dias seguintes.




Um comentário:


  1. voltei, claudio.

    e, sabe, esse é um dos que mais gostei de ter lido!

    criava as cenas enquanto lia,
    me envolvia... até acabar
    no dia seguinte.

    beijos

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