sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quietude



O coração está quieto demais.
Tudo ficou dentro do costume.
E o ser que somos não se admite
calado em meros costumes.

Ao negar a busca de 
um amor vestido de eterno,
submetemo-nos e nos capitulamos
prisioneiros de uma desesperança.

Mas a alma não se aprisiona.
E não se aceita em exílio,
mesmo que voluntário,
assiste a cena e observa
a inquietude sem meias palavras,
indizíveis palavras.


sábado, 23 de junho de 2012

Os Super-Alunos

Ao longo de minha vivência de magistério eventualmente apareciam, em salas de aula, um ou dois alunos que superavam a média da turma por diversas razões: 1) porque dispunham de uma inteligência excepcional que os diferenciavam da média; 2) porque já tinham tido, anteriormente, experiências de aprendizagem com relação ao conteúdo que estava sendo ministrado; 3) porque tinham facilidade de absorver e explicitar seu parecer (inclusive crítico) com relação ao que estava sendo ministrado. Isso entre outras razões ainda mais complexas.

Creio que o surgimento desses alunos acima da média sempre são um desafio para o professor. Porque muitas vezes eles serão instigadores, questionadores e, muitas vezes, transgressores do ambiente médio da turma. O professor deve engessá-los ao padrão médio da turma? Não, no meu ponto de vista. O papel do professor deve ser sempre o de abrir portas para seus alunos e jamais tentar "mediocrizá-los" ao padrão médio da turma. Engessar o aluno excepcional é uma violência autoritária! Deve-se propiciar a esses alunos a possibilidade de transcendência. Sim! porque eles sempre têm o que aprender, assim como o professor ao lidar com eles.

Com a chegada dos alunos das chamadas gerações X, Y (e a Z que vem vindo aí) às salas de aula do ensino superior e de pós-graduação, acredito que o número desses alunos excepcionais. por sala de aula, já começou a crescer. E, para a complexidade do ensino, cada um tem particularidades e excepcionalidades diferentes. Colocando-se, assim, um desafio ainda maior ao professor para tratar dessa diversidade de super-inteligências, que muitas vezes têm um conhecimento do conteúdo maior que o do próprio professor.

O Professor-Tutor

"Claude Frasson: O professor é designado como um co-aprendiz. Isso porque ninguém tem o conhecimento. O conhecimento existe e precisa ser construído individualmente. É o aluno quem constrói o próprio conhecimento. O professor recebe essa denominação dentro desse contexto porque ele está o tempo todo aprendendo com seus alunos."

Vejo que cada vez mais o professor-tutor como sendo um participante do processo, ao ponto de me questionar: até que ponto é necessário e importante que o professor, enquanto tutor, detenha o conhecimento a priori da matéria que está sendo ministrada? Haverá um tempo em que a interação e a gestão do processo de interação coletiva tornar-se-á uma habilidade cada vez mais específica. E esta habilidade de tutoria será tão ou mais importante que o prévio conhecimento do professor-tutor com relação ao conteúdo do curso que se está tutorando.

Afinal, aprendermos segundo o "estar junto virtual", que o Prof. José Armando Valente se refere é uma evolução permanente. E chegará a um ponto que em que o "estar junto" será tão demandado como habilidade de conduzir, que o professor-tutor entrará em um curso na mesma situação dos alunos em relação ao conhecimento a ser aprendido, de modo a "aprender junto" de uma forma mais efetiva. E colocar-se, assim, mais próximo dos alunos.

Aí o planejamento do curso, especialmente o processo autoral, toma uma dimensão de guiar. O professor-autor - este sim, o detentor do saber iniciático - desenhará um caminho a ser percorrido. E caberá ao professor-tutor gerenciar o processo de desenvolvimento coletivo da reconstrução do saber... E transgredir, junto com os alunos, o caminho do conhecimento inicialmente traçado de modo a percorrer o processo para a reconstrução coletiva do saber-autoral para um saber qualitativamente transcendente.

Estaríamos, assim, tornando numa prática a inteligência coletiva, que Pierre Lévy gosta tanto de mencionar e que foi título de um de seus livros.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sou um homem que procura.
Procuro porque procuro,
numa busca constante
de procurar.

Eu busco quando passo as tardes
resolvendo quebra-cabeças,
jogando comigo mesmo,
sem ter motivo de busca.

Eu procuro quando busco.
Eu procuro.
Eu procuro chaves
de questões que não existem.

O tempo passa na minha procura.
Escoa enquanto,
insano no meu torpor,
um tempo sem perguntas
e, portanto, sem respostas.

Apenas uma busca,
diária e contínua,
a busca da minha busca.

terça-feira, 10 de abril de 2012

limites

estender o olhar para além do que se pode ver
e sentir a presença de meu próprio ser
além dos limites que constroem o cotidiano

ser além do ser de sempre
pode ser a busca de si que transcende
o lugar onde se mora

uma canção que se estende além de mim
meu corpo deitado sem forças
mas com o desejo de ir pra lá

uma visão que chega ao impensável
uma correspondência de afeto longínquo
um ser além de si mesmo que se defenestra

além da angústia do cotidiano
sem esperança de ter um após
ou uma possível ressurreição de si