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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Dezembro
Deita-me o veneno
de mais uma tarde sonolenta.
Permaneço deitado na cama
à espera de nada.
Ressono e sonho idílios
vestidos de salvação.
Mas há tanta desesperança
nesses sonhos diurnos.
Como se permanecesse desperto
ligado o sinal de alerta,
premido face à ilusão,
perturbadora,
de minhas saídas clássicas.
Minhas fugas místicas
que atravessam a tarde,
pintando-a de tênues brilhos
que travestem a cores
mortiças e fugidias,
os fantasmas dos mortos
que ainda pulsam.
São essas as tardes
que antecedem o desânimo
irreversível do tempo.
Não há esperança!
Apenas uma tarde que passa
com a brisa que sopra
e deixa mais vazia a alma
do amanhã.
São Paulo, 2013, dezembro.
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Aquela lembrança noturna
percebida dentro do sono.
A definida figura, clara,
a conduzir o espectro
de alguma inacessibilidade.
O lento solavanco
dos dormentes do tempo,
onde cada momento,
esvaído do nada,
purga nas chagas
da tarde dos incestos.
Aquela jovem visitada
e que de nada se apercebe.
O erotismo de ser
simplesmente um suspiro.
A vetusta fonte
de entranhas águas.
Profundez de vales.
Reprodução de fatos.
Melódica inacabada.
Contínuo interrompido.
Sinfonia deletada.
... Rio de Janeiro, 1996
percebida dentro do sono.
A definida figura, clara,
a conduzir o espectro
de alguma inacessibilidade.
O lento solavanco
dos dormentes do tempo,
onde cada momento,
esvaído do nada,
purga nas chagas
da tarde dos incestos.
Aquela jovem visitada
e que de nada se apercebe.
O erotismo de ser
simplesmente um suspiro.
A vetusta fonte
de entranhas águas.
Profundez de vales.
Reprodução de fatos.
Melódica inacabada.
Contínuo interrompido.
Sinfonia deletada.
... Rio de Janeiro, 1996
Lento progredir
da maratona insana.
Vida vivida a esmo
percolada de estio.
Luminosidades refletidas
nas saliências dos cantos.
As equimoses do tempo
nos resvalos
impercebidos nas quinas.
Não,
o amargor sentido
de dentro da saliva.
A pele misturada
na ardência dos ácidos.
A perpétua e obstinada
prepotência do inevitável ocaso.
A ridicularização dos ícones
a representar falácias.
Regras inadmitidas,
frascos de inconsistência
a revelar nos pelos
a sensibilidade dos insetos.
... Rio de Janeiro, 1996
da maratona insana.
Vida vivida a esmo
percolada de estio.
Luminosidades refletidas
nas saliências dos cantos.
As equimoses do tempo
nos resvalos
impercebidos nas quinas.
Não,
o amargor sentido
de dentro da saliva.
A pele misturada
na ardência dos ácidos.
A perpétua e obstinada
prepotência do inevitável ocaso.
A ridicularização dos ícones
a representar falácias.
Regras inadmitidas,
frascos de inconsistência
a revelar nos pelos
a sensibilidade dos insetos.
... Rio de Janeiro, 1996
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
avessos
Essa escuridão não verte em substância.
Trago passos adentro a casa
e não verto espasmos de percepção.
Silente o verso de uma mudez estanque.
Apalpo as circunstâncias de uma negação.
Meu hálito transpira incoerências e fatos.
Soam badaladas inexpressivas
do pulsar diário e constante
que um dia cessa.
Cabe o aposento em penumbra.
Repousa o corpo em abandono
no divã da sala de estar.
Fluem a rotina e as horas cegas.
Trago passos adentro a casa
e não verto espasmos de percepção.
Silente o verso de uma mudez estanque.
Apalpo as circunstâncias de uma negação.
Meu hálito transpira incoerências e fatos.
Soam badaladas inexpressivas
do pulsar diário e constante
que um dia cessa.
Cabe o aposento em penumbra.
Repousa o corpo em abandono
no divã da sala de estar.
Fluem a rotina e as horas cegas.
terça-feira, 4 de junho de 2013
as portas
às vezes penso
em escrever um poema
às vezes penso
e não escrevo nada
construo para mim mesmo
uma porta secreta
por onde saio
e nem sempre volto
hoje não encontro
a minha porta secreta
onde foi que a achei
da última vez?
o tempo passa
e as portas vão se fechando
o tempo admira
as portas fechadas
em escrever um poema
às vezes penso
e não escrevo nada
construo para mim mesmo
uma porta secreta
por onde saio
e nem sempre volto
hoje não encontro
a minha porta secreta
onde foi que a achei
da última vez?
o tempo passa
e as portas vão se fechando
o tempo admira
as portas fechadas
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Aqui e agora
Do tempo que eu me lembrava,
já me esqueci.
Mas às vezes lembro um verso dos Stones
a martelar a alma numa calma noite de inverno.
Eu não lembro mais.
Disse um rock'n'roll, que é quase um delírio,
não há mais prazer
e que tentei, tentei, tentei.
Os versos que escrevo são rock'n'roll.
Falam do agora, porque minha memória
é volátil e eu não me lembro mais
quem é você.
Havia uma canção pronta para ti,
mas eu esqueci.
Fala-me apenas do agora,
pois já não sei o aqui.
já me esqueci.
Mas às vezes lembro um verso dos Stones
a martelar a alma numa calma noite de inverno.
Eu não lembro mais.
Disse um rock'n'roll, que é quase um delírio,
não há mais prazer
e que tentei, tentei, tentei.
Os versos que escrevo são rock'n'roll.
Falam do agora, porque minha memória
é volátil e eu não me lembro mais
quem é você.
Havia uma canção pronta para ti,
mas eu esqueci.
Fala-me apenas do agora,
pois já não sei o aqui.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Casa de Bonecas sem Face
Acordo de meu sonho!
Olho pela janela e os horizontes se desestruturam.
A paisagem se deteriora e dissolve-se o céu laranja.
Não é um apocalipse.
São ideias de morte em minhas ilusões mais queridas
e que entornam o frasco de veneno,
sobre o tecido amarelo do sofá da sala.
Não, não são verdades!
São belezas que eu menti pra mim
e o dia conspirou para derrubar os cenários.
E invadir de um amargor cotidiano
a turbidez da casa de bonecas sem face.
Respiro o ocre que restou do apartamento.
Exponho as vísceras da agonia de meu desapego.
Sobra-me o desespero.
E cada vez mais sombrio transcorre
o meu dia, onde a luz surtou
e enxovalhou meus agasalhos
de uma baba de louca.
Restou uma vertigem fúnebre
e um enjoo da verdade óbvia.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Quietude
O coração está quieto demais.
Tudo ficou dentro do costume.
E o ser que somos não se admite
calado em meros costumes.
Ao negar a busca de
um amor vestido de eterno,
submetemo-nos e nos capitulamos
prisioneiros de uma desesperança.
Mas a alma não se aprisiona.
E não se aceita em exílio,
mesmo que voluntário,
assiste a cena e observa
a inquietude sem meias palavras,
indizíveis palavras.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Sou um homem que procura.
Procuro porque procuro,
numa busca constante
de procurar.
Eu busco quando passo as tardes
resolvendo quebra-cabeças,
jogando comigo mesmo,
sem ter motivo de busca.
Eu procuro quando busco.
Eu procuro.
Eu procuro chaves
de questões que não existem.
O tempo passa na minha procura.
Escoa enquanto,
insano no meu torpor,
um tempo sem perguntas
e, portanto, sem respostas.
Apenas uma busca,
diária e contínua,
a busca da minha busca.
Procuro porque procuro,
numa busca constante
de procurar.
Eu busco quando passo as tardes
resolvendo quebra-cabeças,
jogando comigo mesmo,
sem ter motivo de busca.
Eu procuro quando busco.
Eu procuro.
Eu procuro chaves
de questões que não existem.
O tempo passa na minha procura.
Escoa enquanto,
insano no meu torpor,
um tempo sem perguntas
e, portanto, sem respostas.
Apenas uma busca,
diária e contínua,
a busca da minha busca.
terça-feira, 10 de abril de 2012
limites
estender o olhar para além do que se pode ver
e sentir a presença de meu próprio ser
além dos limites que constroem o cotidiano
ser além do ser de sempre
pode ser a busca de si que transcende
o lugar onde se mora
uma canção que se estende além de mim
meu corpo deitado sem forças
mas com o desejo de ir pra lá
uma visão que chega ao impensável
uma correspondência de afeto longínquo
um ser além de si mesmo que se defenestra
além da angústia do cotidiano
sem esperança de ter um após
ou uma possível ressurreição de si
e sentir a presença de meu próprio ser
além dos limites que constroem o cotidiano
ser além do ser de sempre
pode ser a busca de si que transcende
o lugar onde se mora
uma canção que se estende além de mim
meu corpo deitado sem forças
mas com o desejo de ir pra lá
uma visão que chega ao impensável
uma correspondência de afeto longínquo
um ser além de si mesmo que se defenestra
além da angústia do cotidiano
sem esperança de ter um após
ou uma possível ressurreição de si
quinta-feira, 15 de março de 2012
Noturno Negro
Esta minha memória
vaga
nebulosa
remonta resquícios de ser
histórias
vultos
Essências de outros
mortos
fantasmas
Encontros deixados de lado
espirais
confusões
Meu pensamento
uma viagem sem bagagem
a percorrer trilhos
a estacionar em gares
pontos de parada
reflexivas pontes
travessias no tempo
do tempo
do longe
do longo
ao longo
de um percurso sem fim.
Minha pequena tristeza
esquecida
colocada de lado
Deitada em uma estação do tempo
num momento há tempo
meus devaneios
minha sensação de presença
omissões de existência
fugas de perspectivas
geometrias
espaços
vazios
É lá que vou todas as noites
E percorro esses caminhos
de uma cidade
que não me lembro
e que
no entanto
pareço saber todos caminhos
atalhos
ruelas
Cenas de filmes antigos
mal absorvidos
cenas fugazes
incompreendidas
que retornam
e ali estou eu
vagando nesses cenários
em ilusões
que um dia foram minhas
e agora desintegram-se
e desvultuam-se
em minha velhice
e no meu contar
noturno
solene
das horas
E a sensação de cansaço
na mente
não passa
E a culpa de viver
permanece
É assim que me encontro
nessas madrugadas
insones
a buscar algo
improvável
inefável
na escuridão da sala
na penumbra da alma
vadia que vaga
sempre ao léu
E se durmo
é como se obtivesse
um passaporte
para um país
tão íntimo
tão distante
inalcançável
quando desperto
Mas que sei que
é para lá
que estou indo
já a caminho
cada dia
cada hora
Há uma cidade
a ser visitada e
um dia desses será.
vaga
nebulosa
remonta resquícios de ser
histórias
vultos
Essências de outros
mortos
fantasmas
Encontros deixados de lado
espirais
confusões
Meu pensamento
uma viagem sem bagagem
a percorrer trilhos
a estacionar em gares
pontos de parada
reflexivas pontes
travessias no tempo
do tempo
do longe
do longo
ao longo
de um percurso sem fim.
Minha pequena tristeza
esquecida
colocada de lado
Deitada em uma estação do tempo
num momento há tempo
meus devaneios
minha sensação de presença
omissões de existência
fugas de perspectivas
geometrias
espaços
vazios
É lá que vou todas as noites
E percorro esses caminhos
de uma cidade
que não me lembro
e que
no entanto
pareço saber todos caminhos
atalhos
ruelas
Cenas de filmes antigos
mal absorvidos
cenas fugazes
incompreendidas
que retornam
e ali estou eu
vagando nesses cenários
em ilusões
que um dia foram minhas
e agora desintegram-se
e desvultuam-se
em minha velhice
e no meu contar
noturno
solene
das horas
E a sensação de cansaço
na mente
não passa
E a culpa de viver
permanece
É assim que me encontro
nessas madrugadas
insones
a buscar algo
improvável
inefável
na escuridão da sala
na penumbra da alma
vadia que vaga
sempre ao léu
E se durmo
é como se obtivesse
um passaporte
para um país
tão íntimo
tão distante
inalcançável
quando desperto
Mas que sei que
é para lá
que estou indo
já a caminho
cada dia
cada hora
Há uma cidade
a ser visitada e
um dia desses será.
quinta-feira, 1 de março de 2012
quem sou eu que ora te fala?
quem sou?
há um viés que não sabe de quem
emergem tais palavras
como num sonho
elas brotam e se juntam
formando uma estrutura lógica
se misturam e denotam
uma lucidez estrangeira
numa construção paulatina
os pensares se ligam
num parecer de síntese
uma ideia emergente
da edificação que se permeia
onde as palavras se montam
numa alvenaria concreta
e se projetam
para fora do edifício
em metafísica
e esta lógica que sobressai
e se incorpora às teias
de teus nervos elétricos
formam em ti um sentido
que se revela próprio
e já não subsiste por si só
pois agora impregna-se de ti
vestido de memória aberta
ao universo
[CAlex Fagundes]
quem sou?
há um viés que não sabe de quem
emergem tais palavras
como num sonho
elas brotam e se juntam
formando uma estrutura lógica
se misturam e denotam
uma lucidez estrangeira
numa construção paulatina
os pensares se ligam
num parecer de síntese
uma ideia emergente
da edificação que se permeia
onde as palavras se montam
numa alvenaria concreta
e se projetam
para fora do edifício
em metafísica
e esta lógica que sobressai
e se incorpora às teias
de teus nervos elétricos
formam em ti um sentido
que se revela próprio
e já não subsiste por si só
pois agora impregna-se de ti
vestido de memória aberta
ao universo
[CAlex Fagundes]
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Duração
O tempo se esvai.
Como se estivesse deitado
e escorresse, líquido,
pelas frestas e entre portas
de meu quarto metafísico.
A duração palpita.
Escombros de memória
esbarram entre si
na fluidez do pensamento.
Como se num coma,
fragmentos de ser
embatem entre si,
numa disputa épica
para dizer 'eu sou'.
Não há mais encanto,
senão o próprio encanto
de acompanhar o vagar
as batidas insistentes
do relógio interno.
Claudio CAlex Fagundes, 2012
Como se estivesse deitado
e escorresse, líquido,
pelas frestas e entre portas
de meu quarto metafísico.
A duração palpita.
Escombros de memória
esbarram entre si
na fluidez do pensamento.
Como se num coma,
fragmentos de ser
embatem entre si,
numa disputa épica
para dizer 'eu sou'.
Não há mais encanto,
senão o próprio encanto
de acompanhar o vagar
as batidas insistentes
do relógio interno.
Claudio CAlex Fagundes, 2012
terça-feira, 15 de novembro de 2011
sábado, 27 de agosto de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
esta canção não fala de amor
esta canção não fala de amor
como se fosse possível
risível do tempo e das coisas
e dizer algo sem cor
quem sabe falar da dor
de dias difíceis a esmo ou mesmo
de pérolas preciosas perdidas
se isso possível for
o céu está cor de laranja
lá pra franja do ocidente
aqui eu olho inocente
guardando meu desespero
de vez em quando a esperança
se tinge de tom vermelho
e a noite chega escura
e dura dura perdura
guardei este pequeno inferno
interno solitário sem fé
até onde mantenha ativa
viva, acesa uma chama
como se fosse possível
risível do tempo e das coisas
e dizer algo sem cor
quem sabe falar da dor
de dias difíceis a esmo ou mesmo
de pérolas preciosas perdidas
se isso possível for
o céu está cor de laranja
lá pra franja do ocidente
aqui eu olho inocente
guardando meu desespero
de vez em quando a esperança
se tinge de tom vermelho
e a noite chega escura
e dura dura perdura
guardei este pequeno inferno
interno solitário sem fé
até onde mantenha ativa
viva, acesa uma chama
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Sim, meu bom Álvaro, é cansaço!
É cansaço de cometer o suicídio
diário de ver almas que já
crescem pequenas e perdidas
pelo temor de sair de dentro
de si mesmas.
É cansaço. É cansaço de perceber
com essa maldita (e dolorosa) consciência
como as pessoas negam a si mesmas
e se auto-destroem, todos os dias,
de diferentes formas e sutilezas.
É cansaço. É cansaço de prever
sempre os mesmos cataclismas
pessoais retratados e, lamento,
Álvaro, a gare a que se volta
agora é sempre a mesma.
E só se serve o amor como
dobrada fria.
É cansaço. Sim, é cansaço.
domingo, 7 de novembro de 2010
Interior (Claudio Fagundes)
Vir de uma áspera estrada.
Tropeçar numas casas rasas.
Colocar-se diante das fachadas,
deixando o coração bater as asas.
As asas do vento me trouxeram
como a poeira voa no tempo.
Coisas que os tempos souberam
e não sabe o peregrino atento.
Caminhei por entre olhos.
Ouvi murmúrios entredentes.
Palavras que a mente esquece.
mas que o coração pressente.
De longe, indo embora,
ainda olhei uma hora.
Sempre um espectador
de uma aldeia do interior.
imagem
Na cadência dos passos cotidianos,
compassos que representam anos,
um ser real desprende-se de mim
e me assiste ao largo. Sempre assim.
Na massa humana que se embaralha,
sou eu que vou descobrindo atalho
E no momento em que a tensão se espalha
Sinto o olhar dele fixado em mim.
Ao sair da multidão, adentro
por meus umbrais em meu aposento,
e onde o dentro é cada vez mais dentro
ele me aguarda já tomado assento.
E no mais íntimo dos espelhos caseiros
Onde me tranco para meu asseio
Olhos se fitam como companheiros
e atrás deles está meu próprio rosto.
sábado, 6 de novembro de 2010
à Praça São Salvador
As tardes são muito diferentes
nestas velhas paragens
onde vivera momentos de juventude
que se passaram, não tão rápidos,
como o vento que se espalha
e a brisa que sopra agora.
Juntar pensamentos remanescentes.
Montar um velho quebra-cabeça
perdido no tempo.
Quantos pensamentos se passam
como passa o vento?
Velhos cenários
substituídos por tantas diferenças
uma máscara no primeiro plano.
Transmutada pelas fachadas do comércio
e pelas pessoas que passam.
Uma velha praça, sim, velha.
Recuperar um velho sentimento de
de presença.
Recuperar uma velha fronteira
de existência.
Onde será que estamos?
O que contam este velho piso
de pedras portuguesas?
O que contam estes fantasmas
que se foram?
Continuamos vivendo um viver distante.
Distante como era o nosso futuro.
Distante como é o nosso passado.
Por muitas vezes andei
por essas calçadas.
Naquelas eras
nunca sentei nesses bancos.
Carreguei por estas calçadas
todos os sentimentos
de paixões adolescentes.
Algumas das mesmas pessoas passam
com fisionomias quase irreconhecíveis.
Novas pessoas passam também
com fisionomias irreconhecíveis.
Como foi esta transformação?
Que fez o tempo?
Como se sucedeu?
O que ocorreu no meio de
todos aqueles velhos caminhos?
Fui eu que saí para longe,
em corpo e espírito.
Acho difícil retornar no tempo,
pelo menos para entender,
o percurso daquela velha linguagem.
Novas palavras serão necessárias
para devolver a chama.
Novos sentimentos devem urgir
para retomar o fio dos anos.
Mas nada trará de volta
os meus velhos mortos.
Carregam-se velhos pensamentos.
Esparrama-se a memória.
A busca do elo
de vivências interrompidas.
Um velha mensagem
sobreposta
em tons de tijolo
mais novo.
Sobrados que se remontam.
Se reconstroem.
Por aqui
não conheço nada!
Por aqui
eu conheço tudo!
De repente
visionâncias familiares
erodidas pelo tempo.
De repente
velhos comerciantes
que mudaram a fachada.
De repente
velhas fachadas
que mudaram os comerciantes.
Tanta e quanta coisa!
Aqueles velhos casais de namorados
geraram novas fisionomias
que se restauram numa
velha juventude.
Quantos gestos perdidos no tempo!
...
São tardes que se perderam.
São velhos verões medianos
vividos pela esperanças.
São velhos futuros esperados
alguns que não se impuseram.
São transformações urbanas
que se sucederam
nas fachadas dos prédios
e nos homens.
Este velho som de blues
perdido numa vitrola recente.
Talvez uma vontade premente
de presente, levou a desligá-lo.
Este fluxo de realidade
mal amanhecida.
Que o cenário não acompanhou.
Onde estamos, velhos rascunhos?
Velhos esboços de remanescências futuras.
Esta nova marca de cerveja.
Esta velha atmosfera.
Transformações.
Velhas cabeças de comerciantes.
Velhos pensamentos de ganância.
Mesmo sem concordar.
Mesmo sem discordar.
Apenas a reparar transformações.
Desconexos.
Dessintonias.
Anarquia.
Em um mundo que guarda
um velho registro antigo.
Claudio Fagundes
escrito em um banco da praça
1990
1990
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