quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A mesma idiotice liga o otimista e o pessimista.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dezembro



Deita-me o veneno
de mais uma tarde sonolenta.
Permaneço deitado na cama
à espera de nada.
Ressono e sonho idílios
vestidos de salvação.

Mas há tanta desesperança
nesses sonhos diurnos.
Como se permanecesse desperto
ligado o sinal de alerta,
premido face à ilusão,
perturbadora,
de minhas saídas clássicas.

Minhas fugas místicas
que atravessam a tarde,
pintando-a de tênues brilhos
que travestem a cores
mortiças e fugidias,
os fantasmas dos mortos
que ainda pulsam.

São essas as tardes
que antecedem o desânimo
irreversível do tempo.
Não há esperança!
Apenas uma tarde que passa
com a brisa que sopra
e deixa mais vazia a alma
do amanhã.


São Paulo, 2013, dezembro.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Esperando o almoço como quem espera para tomar injeção.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Vagina



I

 Teus lábios,
 doce mel de frutas sazonais,
 se oferecem livres
 ao desfrutar dos beijos.

 Tua boca molhada,
 ostra aberta ao desejo,
 saliva de todas delícias.
 A flor de todas carícias
 tuas pétalas
 ficam expostas aos meus sentidos.

 Abre-se,
 jardim das virtudes,
 fazendo-se carne
 e despeja sobre mim
 tua água farta.

 O calor de teus ermos,
 o vale de tua sombra,
 transmite-me, dentro de ti,
 a dádiva profana da terra onde
 todos os frutos habitam
 e se depositam
 todas as sementes.

 Sabe-se que tu, mulher,
 antes de mais nada
 tens a vagina preparada
 para afirmar-te fêmea
 a qualquer tempo.

 II

 Tenho a ânsia infinita de te possuir
 até o fundo, sem qualquer constrangimento.
 E ao mesmo tempo quero fazer-te sentir
 -se, então, senhora nem que por um momento.

 Em meio à faina, meio da batalha.
 Espada em riste, sem traço de clemência.
 Afasto as portas de tua residência
 e cravo tudo rompendo a tua malha.

 E ao sentir-se tão fundo lancetada
 tua vagina entrega-se de todo,
 vibra por dentro, toda encharcada
 e me domina enquanto eu a fodo.

 E a luta afasta de nós todas as éticas
 no afã de possuir a alma alheia.
 Uma ciranda entoada sem poéticas,
 uma charanga expressa em carne, nervo e veia.

 E eu te domo, gazela desfreada.
 E eu te como, boceta enfurecida.
 Eu te quero assim, escancarada,
 pra despejar em ti a minha vida.

 E se aproxima a última estocada
 o frenesi expresso, uníssono dueto
 tua boceta me traga esfaimada
 e te devoro no teu fundo aposento.

 Mas num momento em que tudo é mais tudo,
 como se fizesse a morte inquilina.
 nesse instante supremo eu fico mudo
 e me rendo, inteiro, em tua vagina.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Aquela lembrança noturna
percebida dentro do sono.
A definida figura, clara,
a conduzir o espectro
de alguma inacessibilidade.
O lento solavanco
dos dormentes do tempo,
onde cada momento,
esvaído do nada,
purga nas chagas
da tarde dos incestos.

Aquela jovem visitada
e que de nada se apercebe.
O erotismo de ser
simplesmente um suspiro.
A vetusta fonte
de entranhas águas.
Profundez de vales.
Reprodução de fatos.
Melódica inacabada.
Contínuo interrompido.
Sinfonia deletada.


... Rio de Janeiro, 1996