segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Casanova de Fellini (Il Casanova di Federico Fellini) 1976


O Casanova de Federico Fellini é um Fellini de primeira linha. É belo e sutil e, obviamente, não seria de esperar que Fellini fizesse algo grotesco. Em certos momentos do filme revisitei Satiricon, Roma e Amarcord... A festa de cenários e de trilha sonora do Nino, como sempre, se integram perfeitamente à história satírica, mas respeitosa, ao homem que conhecia as mulheres. Este, representado com maestria por Donald Sutherland, representa as cenas de sexo com a preocupação de minimizá-las frente a enorme sensibilidade feminina de Giacomo Casanova. Essa sensibilidade que o torna fisicamente um 'quase' feminino, demonstra a teoria que as mulheres desejam ser descobertas, encontradas, desveladas, em meio às fantasias de sedução que as envolve. Nisso Casanova era um mestre: a arte de desvelar uma mulher.

Não pude deixar de traçar paralelos com o Casanova de Ettore Scola, representado não menos magistralmente por Mastroianni. Mas ali também se demonstra a perfeita vocação de Giacomo de descobrir a alma feminina, fazê-la despida por completo, antes de ser invadida ou penetrada sem resistências, como uma entrega total à morte. Sim, à morte! Não são poucas as analogias que fazem o prazer supremo do desejo, comparar-se à travessia e agonia da morte. Mas sem dúvida trata-se de uma morte sublime: o encontro consigo mesmo ensejado por Eros e Psique, em poesia de Fernando Pessoa. Ou seja: o eu masculino que se encontra com o eu feminino, em meio à cópula com o sublime.

Assim, para quem saber ver a beleza. Casanova de Fellini é magnífico. E será um prazer soberano, mais uma vez, entrar nas imagens recontadas de sonhos, de quimeras que só podem ser criadas através da genialidade de Federico que, como raríssimos, conseguem adentrar em profundidade na alma feminina, tal qual o próprio Giacomo, recontado aqui e transcendente.

Claudio Fagundes