domingo, 28 de junho de 2009

noturno transparente





eu tenho ânsias
de libertação
sonho com ela
todos os dias

de noite eu recebo
delicadamente
os grilhões de meus
despropósitos

já houve tempo
em que me deitava
comodamente
em minhas razões

agora eu tenho
espasmos e tremores
sinto na pele
sensações de frio

eu vejo almas
de trás do espelho
de trás da vidraça
da janela da sala

e há em mim
uma vontade enorme
de atravessar
esses umbrais

sinto-me cada vez
mais dono de meu medo
desmancho à noite
os tecidos do dia





sábado, 27 de junho de 2009

velhice




são essas as cores
que vejo todas as manhãs
cada vez mais sombrias

o sol se afastou de mim
e as veredas se encobriram
de mato fechado

e ali me encontro sempre
com os punhos trançados
pelas macegas que crescem

e daqui vejo a natureza
de paciência vagarosa
compor o meu túmulo




domingo, 7 de junho de 2009

[estou tão exausto]




estou tão exausto
e quando assim fico
eu falo demais

digo palavras
conclusivas
para depois calar

mergulho na pressa
de esconder-me
no meu silêncio

estou tão exausto
e quando assim fico
não quero escutar

prefiro trancafiar
esconder meu medo
na indiferença




terça-feira, 2 de junho de 2009

[com o tempo e o tempo]




com o tempo e o tempo
aprendi a esperar
na desesperança

quando se sente
que não se pode agir
nada se tem a fazer

então, eu aguardo
aguardo numa resposta
a desesperança do tempo




segunda-feira, 1 de junho de 2009

falar e falar




digo que ninguém
conseguirá
dizer do outro,
tanto como
o outro de si.

mas, para
saber de si mesmo,
num sentido
fenomenológico,
sempre faltará muito.

quanto ao ato
de só falar por falar...
é um modo de revelar
toda a indiferença.




seja cruel





seja cruel
não entre na complacência
do meu autocompadecimento
nas minhas lamentações

todas as dificuldades
morrem em um instante
e tudo se modifica
com um simples olhar

dê-me esse olhar
simplesmente sem piedade
seja inclemente
e me ressuscitarás

e serei teu
do jeito que queres
simplesmente teu
do jeito que quero